domingo, 8 de fevereiro de 2009

Músicos e físicos, além de outras especialidades podem virar peritas.

Mais cargos para concursos públicos podem ser criados a partir desta notícia cuja expectativa é de um Pará cheio de profissionais qualificados para exercer a função de perita criminal. Cada especialidade irá fazer jus ao novo sistema forense do estado.
Um músico com formação em violão e mestrado em Música Popular Brasileira tem tudo a ver com perícia criminal. Assim como um contador, uma engenheira florestal, uma artista plástica de renome a premiada. E até um físico. Num primeiro momento pode parecer absurdo, mas o Centro de Perícias Científicas (CPC) 'Renato Chaves' vai contar, a partir de junho deste ano, com um quadro inusitado para a sociedade, mas habilitado, treinado, integrado e multidisciplinar nunca visto na história da autarquia para trabalhar tanto em perícias genéricas como em grandes investigações policiais, segundo confirma o coordenador, Luiz Walter Carvalho e Souza.
No novo modelo de funcionamento do CPC, este é o primeiro curso de formação de peritos com as mais diversas profissões. A formação é feita pelo próprio CPC, com a parceria pedagógica do Instituto de Ensino de Segurança Pública do Pará (Iesp).
A partir dessa nova formatação, o quadro de peritos oficiais do Estado ganha o status de ser o mais completo de toda a Região Norte. O centro vai poder fazer, de forma integrada, perícias contábeis, análise de cheques falsos, avaliação de danos em obras de arte ou o simples atestado de falsificação ou adulteração, comparações a partir da fonética forense de grampos e escutas telefônicas, dentre tantas outras possibilidades que se abrem agora.
Desde a precisão para saber a trajetória de uma bala, o impacto exato causado na hora do tiro, a mecânica, a propulsão e toda a chamada microscopia do projétil podem ser rigorosamente analisadas em laudo oficial pelo perito criminal com formação em Física.
Aliás, com a nova equipe que se integrará ao quadro do CPC Renato Chaves, o Pará passa a realizar, de forma pioneira na região, até estudos e análises com base na espectroscopia vibracional (infravermelho e Raman), notadamente a microscopia Raman.
Essa técnica não requer a destruição ou manipulação da amostra e permite o estudo de quantidades mínimas de substância. Pelo alto índice de acerto, faz com que venha sendo empregada em estudos sobre drogas ilícitas e explosivos, além de ter sua eficiência comprovada em investigações de fibras e pigmentos.
A microscopia de Ramam tem sido utilizada como uma ferramenta poderosa no estudo de falsificações de documentos e outros objetos de valor, como pinturas e pequenas esculturas.
O físico e futuro perito Marcel Luiz Ferreira revela que basta uma amostra no local do crime da tinta do carro e de uma bicicleta, por exemplo, para se ter a certeza de que ambos os veículos estiveram envolvidos em um mesmo acidente. 'É como se fosse um DNA', explicou.
De olho na alta sensibilidade auditiva do músico, o 'Renato Chaves' também vai lançar mão dessa característica e de um software para identificar desde plágios, violações a direitos autorais, além de ameaças gravadas em telefones celulares. 'O Ricardo Molina é um perito criminal de fonética forense com formação em Música e na mesma universidade que cursei, a Unicamp', relatou Pablo y Castro, paulista que passou no concurso do Pará e que também está em formação no Iesp.
BALÍSTICA
O professor e perito Nelson Silveira é um exemplo de que a formação é importante, mas nem tanto assim para a área de atuação no Centro de Perícias Científicas. Há 19 anos na profissão, ele é farmacêutico-bioquímico especializado em Balística. E se você se assustou com a pretensa discrepância, saiba que mesmo sendo um advogado, um jornalista ou mesmo um médico, as chances de ser especialista em Balística no CPC são muitas.
Nelson Silveira explica: vários cursos realizados proporcionaram a formação específica, inclusive junto ao Exército Brasileiro para conhecer tudo sobre armas. No instituto, segundo ele, há biólogos, dentistas e farmacêuticos que atuam como perito em local de crime. O próprio coordenador do curso, Luiz Walter, concorda e esclarece que o dia-a-dia se encarrega de ensinar, pois em uma cena de crime, 'o cadáver fala'. 'O desafio é sempre maior quando não se está em sua área específica. Gostei tanto de balística que estou até hoje', garante Nelson, professor que será homenageado pelos alunos na formatura, no dia 30 de maio.
Artista plástica diz que vai manter duas carreiras ao mesmo tempo
A artista plástica Berna Reale agarrou a chance com unhas e dentes. Não ter um emprego e exercer, paralelamente, a arte. Pelo contrário. Ela atesta que se encantou pela possibilidade de atuar em sua área, mas em outro nicho, outro mercado. 'Não vou precisar deixar de ser artista. Posso continuar fazendo o meu trabalho autoral', confirma.
Ela será a segunda artista plástica a ocupar uma vaga de perito no CPC. A primeira mulher. Assim como Fabrízia de Oliveira Albino. Ela é doutoranda em Engenharia Florestal e vai atuar como perita em Santarém.
A perícia ambiental, segundo Fabrízia, tem tudo a ver com a Amazônia e com o futuro da região. Seu trabalho será avaliar o dano ou risco que o dano ao meio ambiente pode causar. Hoje ela se desdobra em concluir a defesa de doutorado em que está avaliando os riscos de extinção de espécies no Pará, especialmente no nordeste do Estado, no município de Bragança.
Andrey Fernandes Matheus, contador de formação, também vai poder tanto periciar documentos quanto participar de perícias genéricas no local de crime ou coleta de impressão digital. Para estas ou mais tarefas, todos, independente da área de conhecimento, estarão habilitados depois do curso de formação.
MULTIDISCIPLINAR
Artista plástico, físico, músico, engenheira florestal ou contador, todos estudam um conteúdo único. O coordenador do curso, Luiz Walter Souza informa que as aulas são idênticas para todos. Primeiro, noções de Direitos Humanos, Direito Constitucional, Penal, Processual Penal, Administrativo, Ambiental, Ética e Cidadania, Relações Interpessoais, entre outros. Esses conhecimentos são somados a aulas de Fonética Forense, Balística, Local de Crime, Toxicologia, Biologia Forense, Noções de Medicina Legal, a prática de tiro e uma série de outras disciplinas que são organizadas pela equipe pedagógica, formada ainda pela professora Leonice Costa e o major Leno do Carmo. 'Nossa preocupação não é só com a formação técnica, mas também com a formação social', reitera o coordenador.
Os novos peritos e suas diversas formações se constituem em um divisor de águas para o 'Renato Chaves'. 'Não teremos um trabalho isolado, mas integrado, multidisciplinar, porque a engenheira florestal vai precisar do biólogo, do geólogo, da agronomia, do geoprocessamento', exemplificou.
Outra vantagem é a descentralização da perícia especializada, que vai atuar, além de Belém, em Castanhal, Santarém, Marabá e Altamira.
Os peritos criminais que se formarão, finalmente, em maio, passaram no concurso em julho de 2007. De lá para cá realizaram provas objetiva, de títulos, exames médicos, psicológicos, físicos, passaram no crivo de uma rigorosa avaliação sócio-criminal e mais cinco meses na academia. (M. F.) (O Liberal com adaptações)

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